Magnólias

 

   nascem vazias de amarelo

   as magnólias que se inclinam

   oblíquas a uma terra despovoada

   da dimensão da flor

   murmuram suas pétalas pelo vento

   galopante e assustado fugido dos

   desertos que eram florestas

 

   lentas azuis as estrelas estalam

   agapantos jacarandás

   sangue adormecido dos fenómenos

   que os olhos à luz fazem desaparecer

 

   ausentes as asas adormecem

   trilhos estilhaçados na terra

   onde o longe e a distância

   permanecem na tortura

   do pensamento

   sem etecétera

 

   Ó as searas de flores os

   gerânios as açucenas

   os corações abertos dos rapazes

   aos lilases

   perfume de entrega permanente

   musculado e frágil advento

   de um tempo que há-de partir

   mergulhado nos estames das mãos

   para se transmutar em beijos

   oferecidos às bocas

 

   no chão da terra aturada e escura

   as magnólias pálidas sombrias

   escorrem mel torturado e morno

   onde rapazes deixam o abraço

   doce permanente como o pecado

 

   o orvalho da manhã reclama as

   magnólias que fecundadas devolvem

   à terra o sangue

   dos rapazes exaustos cansados

 

   é manhã a terra toda de repente

   desmaia atormentada nua e quente

 

Henrique Levy 

INTENSIDADES, euroexpress - 2001

 

 

 

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